terça-feira, 29 de abril de 2008

Críticas e críticas

O Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, conseguiu pautar a mídia por um mês inteiro com três pronunciamentos. Em 6 de abril, foi ao Canal Livre, da Band, com o discurso autorizado, e expôs algumas das mazelas do norte do país. Palavras de quem testemunha os fatos, não de quem toma decisões insanas num gabinete.

Em 9 de abril, foi à FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – e respondeu duas perguntas diante de empresários e estudiosos da Defesa e das Relações Internacionais. Uma nota saiu no jornal O Estado de S. Paulo. Na seqüência, o Canal Livre entrevistava o Ministro da Justiça. Tarso Genro meteu os pés pelas mãos. Hoje, é forçado a fazer discursos um pouco mais próximos da realidade.

Cerca de dez dias depois da primeira “aparição”, General Heleno estava no clube militar. Nos corredores, dizem que o discurso recebeu até algumas recomendações. A surpresa foi a quantidade de jornalistas. Heleno seguiu o script, disse o que tinha de ser dito, falou sobre assuntos que não causam nenhuma surpresa no meio militar, nem à FUNAI (ver entrevista do ex-presidente da instituição no jornal O Globo, 27 de abril).

Nenhuma surpresa inclusive para o Governo, que desconsiderou o parecer da Casa Militar ao assinar, na ONU, a Declaração dos Povos Indígenas, que prevê, entre outras coisas, a desmilitarização das reservas – a entrada de militares aconteceria somente com autorização dos índios.

Lula só ficou irritado porque o general disse que não servia ao governo, mas ao Estado. De novo, nenhuma surpresa, nenhuma inverdade. O presidente é que não sabia. Entre críticas e aplausos, analistas questionaram a postura do general por quebra de hierarquia. Esqueceram que ele foi autorizado a comparecer em todos os lugares, que o seu discurso era conhecido e apoiado. Ninguém mostrou fatos que fizessem as palavras do general se perderem ao vento.

Agora, o governo toma algumas providências apenas por pressão da mídia. Provavelmente, não funcionarão na prática, a menos que a imprensa fique em cima. Afinal, país desenvolvido é assim: consciente.

A discussão, porém, mostrou um ponto positivo. Estamos melhorando no quesito liberdade de expressão. O militar disse o que quis do governo. O governo disse o que quis do militar. E a imprensa disse o que quis dos dois. Apesar de tudo, somos felizes. Não há progresso sem contestação.

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