quarta-feira, 30 de abril de 2008

Morre militar brasileiro no Haiti

O 3º Sargento Fuzileiro Naval Carlos Freires Barbosa, 35 anos, teve morte cerebral confirmada na terça-feira, 29 de abril, e faleceu na noite do dia 30. O militar sofreu uma convulsão logo após falar com a família pela internet, por volta das 20h do sábado, dia 26, horário local.

Freires recebeu os primeiros-socorros e foi levado para o hospital de campanha argentino, em frente ao Grupamento Operativo dos Fuzileiros Navais em Porto Príncipe, capital do Haiti. Como foi identificado aneurisma cerebral, o sargento foi transferido de avião para o hospital recomendado pela ONU para fazer exames em Santo Domingo, República Dominicana.

Segundo o Centro de Comunicação Social da Marinha do Brasil, a família tem recebido ajuda, desde o primeiro momento, do Núcleo da Assistência Social da Marinha. O órgão dispõe de médico, assistente social, psicólogo, capelão e advogado.

"Os familiares foram informados de todos os acontecimentos e foi providenciada a emissão de um passaporte para a esposa do militar, bem como a reserva de passagem aérea para Santo Domingo e de hospedagem em hotel próximo ao hospital", comunicou a Marinha em nota à imprensa.

O documento registra que a esposa não viajou por opção própria. Ela teria preferido esperar, pois havia possibilidade de o fuzileiro naval ser transferido para o Brasil. Os recursos ainda estão disponíveis à família, caso a esposa deseje ir à República Dominicana ou ao Haiti.

Os procedimentos de liberação do corpo e translado são de responsabilidade da Organização das Nações Unidas (ONU) e serão acompanhados pela Marinha do Brasil. Ainda não há previsão para o transporte.

O fuzileiro naval tinha 1,81m, aproximadamente 80kg e praticava esportes diariamente. Freires passou por exames rigorosos de saúde e foi submetido a testes psicológicos para ingressar o 8º Contingente de Força de Paz. A Marinha destaca que o militar, com excelentes conceitos na carreira, convivia de forma amistosa com os companheiros.

O Sargento Freires é o terceiro brasileiro a falecer na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Em janeiro de 2006, o General Bacellar cometeu suicídio no quarto do Hotel Montana. Em agosto de 2007, o Soldado Klein morreu eletrocutado num acidente no Ponto Forte Dourados.

Carlos Freires Barbosa deixou um filho de dez anos.

Erros e contradições

Foi difícil conviver com o noticiário neste último mês. Vejo colegas de profissão exaustos. A pressão nas redações é enorme. Não são poucos os jornalistas que contaram até mil para não pedir demissão. O pior é que há muito já se deixou a cobertura jornalística de lado. O que temos hoje é Hollywood, com personagens tupiniquins pouco talentosos.

Ouvi diversas pessoas dizerem que as famílias conseguiram uma vantagem. Se Alexandre e Anna Carolina não forem culpados, os Nardoni e os Jatobá ficarão milionários. Vantagem?

A sociedade está completamente alucinada. Polícia e promotoria parecem incentivar o povo a fazer justiça com as próprias mãos. E a imprensa compra essa idéia. Até fugitivos tiveram a cara de pau de ir ao prédio da família de Anna para pedir a condenação dos dois!

A quantidade de gente que tem dinheiro sobrando e tempo ocioso é incrível. O número de pessoas perversas e sádicas também. Descobri sem querer onde Antonio Nardoni mora. A rua era um caminho alternativo para fugir do trânsito. Hoje, é bem mais tranqüilo seguir pela avenida principal.

Basta ligar uma câmera para constatar: o “rec” transforma as pessoas em seres perfeitos, ávidos por justiça e correção.

Os repórteres? Muitos agem como se tivessem garantido a carreira ao repetir bobagens infundadas como se fossem a única verdade.

A polícia? A partir do momento em que uma delegada dá “piti” chamando os suspeitos de assassinos, não se pode esperar muita coisa. Quando peritos dizem que os laudos não afirmam o que a polícia divulga, é preciso acender direto a luz vermelha.

Também é melhor desconfiar de promotores que dizem fazer e acontecer antes mesmo de ter o inquérito em mãos.

Eu não duvido que o casal seja culpado, mas ainda prefiro acreditar na inocência. É muito complicado conviver num mundo onde não se pode confiar nem no pai. Aliás, agressão de pai está “na moda”, não é só no Brasil.

Precisamos repensar tudo. Principalmente os nossos próprios atos. Os nossos pequenos delitos que se tornam hábitos. Os nossos questionáveis conceitos. Os nossos eternos julgamentos. A nossa tolerância com o certo, o errado, em relação aos outros e a nós mesmos.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Críticas e críticas

O Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, conseguiu pautar a mídia por um mês inteiro com três pronunciamentos. Em 6 de abril, foi ao Canal Livre, da Band, com o discurso autorizado, e expôs algumas das mazelas do norte do país. Palavras de quem testemunha os fatos, não de quem toma decisões insanas num gabinete.

Em 9 de abril, foi à FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – e respondeu duas perguntas diante de empresários e estudiosos da Defesa e das Relações Internacionais. Uma nota saiu no jornal O Estado de S. Paulo. Na seqüência, o Canal Livre entrevistava o Ministro da Justiça. Tarso Genro meteu os pés pelas mãos. Hoje, é forçado a fazer discursos um pouco mais próximos da realidade.

Cerca de dez dias depois da primeira “aparição”, General Heleno estava no clube militar. Nos corredores, dizem que o discurso recebeu até algumas recomendações. A surpresa foi a quantidade de jornalistas. Heleno seguiu o script, disse o que tinha de ser dito, falou sobre assuntos que não causam nenhuma surpresa no meio militar, nem à FUNAI (ver entrevista do ex-presidente da instituição no jornal O Globo, 27 de abril).

Nenhuma surpresa inclusive para o Governo, que desconsiderou o parecer da Casa Militar ao assinar, na ONU, a Declaração dos Povos Indígenas, que prevê, entre outras coisas, a desmilitarização das reservas – a entrada de militares aconteceria somente com autorização dos índios.

Lula só ficou irritado porque o general disse que não servia ao governo, mas ao Estado. De novo, nenhuma surpresa, nenhuma inverdade. O presidente é que não sabia. Entre críticas e aplausos, analistas questionaram a postura do general por quebra de hierarquia. Esqueceram que ele foi autorizado a comparecer em todos os lugares, que o seu discurso era conhecido e apoiado. Ninguém mostrou fatos que fizessem as palavras do general se perderem ao vento.

Agora, o governo toma algumas providências apenas por pressão da mídia. Provavelmente, não funcionarão na prática, a menos que a imprensa fique em cima. Afinal, país desenvolvido é assim: consciente.

A discussão, porém, mostrou um ponto positivo. Estamos melhorando no quesito liberdade de expressão. O militar disse o que quis do governo. O governo disse o que quis do militar. E a imprensa disse o que quis dos dois. Apesar de tudo, somos felizes. Não há progresso sem contestação.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Conversa de canto

Um bate-papo antes de uma entrevista é sempre bem-vindo. O humor é a melhor maneira de acalmar os ânimos, dos dois lados. Toda fonte tem seu dia de jornalista, tem aquela curiosidade sobre o trabalho, sobre o estilo, quer saber com quem está conversando. Isso é ótimo, facilita muita coisa. Da mesma forma que a fonte, o jornalista não pode mentir. Da mesama forma que a fonte, algumas vezes, jornalistas respondem com perguntas. Então surgem os diálogos...

Fonte - Você vai falar bem de mim? (risos)
Jornalista - Você vai me dar motivo? (risos)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Dúvida cruel

Será que Lula vai cobrar explicações do Ministro das Relações Exteriores? Celso Amorim contrariou as declarações do presidente e fala em manter negociação com o Paraguai para chegar a um preço justo pela energia de Itaipu.

Destempero militar

Erra quem aproveita a manifestação do General Heleno sobre o gigantesco problema amazônico para fazer ameaças ao Presidente Lula. Erra feio quem usa a internet para pedir um golpe. Se alguém acha que o General Heleno é exemplo de militar e cidadão, deveria escutar o que ele tem a dizer. Ele não fala, nem nunca falou em golpe. Ele não faz, nem nunca fez ameaças.

O Comandante Militar da Amazônia quer o desenvolvimento sustentável do norte do país, a discussão de um assunto crítico e pede para participar ativamente de um governo democrático, com estado de direito e liberdade de expressão.

Atentemos para as manifestações contrárias.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Brasil é mesmo um país incrível!

A Presidência da República é ocupada por um homem que recebe aposentadoria por ter sido um perseguido político nos tempos que esperamos não viver mais. A Casa Civil é dirigida por uma ex-guerrilheira que, recentemente, vestiu camiseta camuflada em visita à Amazônia. Fico feliz com a evolução dos tempos.

O Planalto é o centro do poder, do dinheiro, do glamour... e também das maracutaias e “burrocracias”, talvez bem mais inteligentes do que se possa imaginar. Afinal, todo sistema é criado em proveito de algo. Ou de alguém.

É interessante notar como certos assuntos são bem-vindos quando uma denúncia de corrupção está no ar, quando mais uma CPI caminha para a pizzada - ou para um churrascão regado à picanha da boa na Granja do Torto. Ah! Sem contar os achados, ou perdidos, da Petrobras. Alguns temas sempre animam os moçoilos do Palácio Alvorada.

Para evitar a queda de mais pessoas-chave do Governo, a exposição excessiva de uma possível sucessora de um recordista em bolsa-apoio popular e para esconder as mazelas de um Governo tão doente como qualquer outro que na Terra BraZilis se estabeleceu desde 1500, o que fazer?

Vamos lá! Precisa ser algo eficiente, tão forte como... uma crise com militares. Lulinha paz e amor, que agradece até hoje a existência da ditadura, pois foi nela que ele se fez, exige explicações do Comandante Militar da Amazônia por discursos inflamados. A verdade, nos governos brasileiros, causam incêndios.

Socorro, Dilma!

A ministra deveria sugerir ao presidente que fizesse mais uma viagem, desta vez, ao norte do país. Lula se divertiria vestindo a camiseta camuflada. Seria interessante ver o líder da nação brasileira frente-a-frente com alguns índios, que recebem contribuições de estrangeiros. Que bom seria ver Lula pegando carona nos carros importados de alguns tuxauas! Será que o presidente daria algum conforto às índias que perdem pais, filhos e maridos para o álcool e para o tráfico de drogas em terras continuamente demarcadas?

A Amazônia é grande, cheia de mistérios, mas ninguém precisa se preocupar com Lula. Ele não vai se perder. Chegar a uma reserva indígena é fácil. Basta seguir o mapa das maiores reservas mundiais de urânio e nióbio, só para citar alguns minérios importantes para as indústrias bélica e espacial. Ou se preferir, tomar o rumo da casa de um amigo que está muy cerca de nosotros, armado até os dentes com tecnologia russa.

Ele também pode pedir apoio a um amigão dos índios. Se tem alguém neste país que conhece índio, esta pessoa é o Comandante Militar da Amazônia. O “tal” do General Heleno, “aquele que só diz o que não deve”, comanda mais de 25 mil homens, dos quais 60% são índios. Estranhamente, ele tem o respeito de toda a tropa. Por que será?

Vai ver que ele olha no olho do soldado, inclusive do soldado índio, e fala do que conhece. Talvez ele não mande ninguém fazer o que ele não faz. Pode ser que ele não passe o dia trancado num gabinete com ar condicionado – Ah! Mas isso ninguém pode falar do presidente também. É provável que ele tenha coragem de colocar em discussão o que é de interesse do país que, há mais de 40 anos, ele jurou defender.

Não, não. É melhor não dar ouvidos a este homem. Seguramente, tanto tempo na ativa o deixou “caduco”. Afinal, segundo o nosso Ministro da Justiça, o Comandante Militar da Amazônia confundiu, ou interpretou mal, a política indigenista. Não há nenhuma ameaça à soberania nacional. Aliás, como bem lembrou a FUNAI, a nossa política indigenista é até exemplo no EXTERIOR. Se eu fosse um estrangeiro mal intencionado também aplaudiria de pé, dizendo: O Brasil é mesmo um país incrível!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Erro estratégico?

Em maio, as Forças Armadas iniciam a troca de contingente da Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Há tempos se discute a permanência armada do Brasil na região e já não são poucos os militares que, em conversas reservadas, avaliam que está mais do que na hora de sair. Interesses políticos à parte, o Exército Brasileiro caminha para uma ação complicada: o 9º contingente de Força de Paz é da Amazônia.

A maior motivação para o rodízio, que já enviou soldados de todas as outras regiões do país ao Caribe, é expor os militares a um conflito real, num cenário bem parecido com algumas regiões brasileiras. Muitos questionam por que o exército não toma conta dos morros cariocas. Os motivos são vários e vão além de questões legais. Quem acha que atuar lá e aqui é a mesma coisa, provavelmente, nunca refletiu sobre o que é viver numa favela, num mundo em que as leis são bem diferentes das que conhecemos e isso sem considerar que, no Brasil, não se cumprem nem as leis que todos conhecem.

No Haiti, os brasileiros estão respaldados por regras de engajamento que os permite responder, inclusive com força letal, contra ato hostil ou intenção hostil. E depois voltam para a base militar, onde ficam isolados e protegidos. No Rio, além de não haver tais regras de engajamento – questionáveis ou não – quando termina o combate, o soldado volta pra casa, que fica exatamente na zona de confronto. No Haiti, o tráfico de drogas não é disputado com a destreza carioca. O país é ponto de parada para a distribuição internacional.

O Rio, entretanto, é apenas uma parte desta história e não é um problema isolado do Brasil. O que parecia, até hoje, isolado é o grande problema no Norte, tão grande quanto a floresta amazônica. A região que muitos brasileiros desconhecem é cobiçada por milhares de estrangeiros. Todo mundo quer estar na Amazônia para turismo, estudo, exploração de madeira, minérios e muitos outros recursos naturais. Sem contar a água, que segundo previsões de especialistas, em algumas décadas, vai valer bem mais do que o petróleo.

A Amazônia brasileira ferve. Arrozeiros, índios, não-índios, demarcações de terra, MST, Movimento dos Atingidos por Barragens, ONG – nem sempre honestas e muitas vezes financiadas por verbas do contribuinte, grilagem, seringueiros, tráfico de animais silvestres, desmatamento e uma fronteira de 11.500 km de mata, com países nada tranqüilos.

Será que os militares da Amazônia precisam de mais missões reais? Em termos de terreno, o Haiti não tem nenhuma relação com a nossa floresta. A deles já foi devastada há tempos. A única semelhança, talvez, seja a ausência do Estado, que lá está em formação e, aqui, foi muito mal formado.

O que nos resta é torcer para que o novo surto de violência haitiano não resulte num desgaste ainda maior para o Brasil. E que a saída temporária de 1200 homens da região mais conturbada do país, num momento tão delicado, não represente um grande erro estratégico.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Protesto violento no Haiti atinge militares

Manifestantes revoltados com a situação econômica do Haiti se reuniram na cidade de Les Cayes, no sul do país. O presidente René Préval é acusado de deixá-los morrer de fome. O protesto, iniciado por volta das 15h de ontem, foi marcado pela violência. Muitas pedras foram arremessadas, inclusive contra a tropa uruguaia e a base da ONU.

Fontes da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti) confirmam que os militares foram autorizados pelo comandante da missão, o General brasileiro Santos Cruz, que chegava ao local, a responder com a mesma proporção de força. Houve disparos com armas de fogo. Blindados da ONU teriam sido atingidos.

O número de feridos não foi divulgado. Militares dizem que centenas de pessoas participaram do protesto. A imprensa haitiana fala em cinco mil. Os manifestantes teriam brigado entre si porque apenas parte do grupo era a favor dos saques realizados em lojas e caminhões de alimentos. A Polícia Nacional do Haiti (PNH) não conseguiu conter a população. A força policial da ONU foi acionada. A situação se normalizou em 2h30, mas os soldados continuam em alerta.

Há a possibilidade de deslocamento de um pelotão brasileiro para o local. Em Gonaïves, ao norte da capital Porto Príncipe, também aconteceram protestos. Em apenas um ano, produtos básicos, como o arroz e as frutas, subiram cerca de 50%. A maioria da população haitiana vive abaixo da linha da miséria, com menos de dois dólares por dia.