Severino, o ribeirinho serigueiro, tem olhos profundamente azuis, como jamais vi o céu de Manaus. Olhos tão chamativos e sinceros, que é impossível não conversar com a alma de Severino. Ele vive e trabalha no mesmo lugar. Com o restaurante sempre à espera de turistas dos caríssimos hotéis de selva, o seringueiro passa o dia com a mulher e a filha.
Pés descalços. Pele em contato com a vida amazônica que pulsa na terra. Uma grande alegria em reencontrar os amigos fardados. Os Guerreiros de Selva são muito bem quistos por Severino, que logo traz a Coca-Cola. Só que o refrigerante vai parar é na goela de alguém que, de visitante, não tem nada.
Satisfeito, o bicho segue a vida, sobe nas estruturas de madeira e desaparece na mata. A mesma que Severino adentra rapidamente. Com andar meio manco, ele sobe os degraus improvisados, numa velocidade impressionante. Acompanhar não é fácil, só a imensa curiosidade para garantir o fôlego.
Severino logo acende o defumador. Com o fogareiro na cabeça tira as lascas da árvore para obter o látex. Numa demonstração típica de tv, ele expõe o passo-a-passo do trabalho no seringal. O homem da borracha nunca passou por um curso de marketing, mas poderia dar aula em qualquer faculdade. Ele é simples, carismático e objetivo. Severino é fascinante e extremamente explorado.
Os Senhores do Norte compram a borracha e não pagam em dinheiro. Eles trocam por grãos, mantimentos, coisas que os seringueiros não conseguem vender, assim se tornam dependentes. E não há balança que faça, da troca, algo ao menos um pouco justo. O peso depende da vontade do “comprador”. O seringueiro pode até defumar uma tonelada de borracha, mas se o "senhor" disser que tem oitocentos quilos, é isso que vai “pagar”. E não tem choro.
Severino se salva com o turismo. O pessoal assiste a demonstração e uma
A despedida de Severino tem um “q” tecnológico. Ele e um major trocam telefones ligando para o celular um do outro. A próxima conversa vai ser sobre a vinda do médico do Centro de Instrução de Guerra na Selva. A filha do homem da borracha está com problemas. Ela já foi à cidade algumas vezes, mas não consegue atendimento em hospital público. O médico vai examinar a moça e encaminhá-la para um atendimento adequado em nome do General Heleno, Comandante Militar da Amazônia. Na selva, a única presença do Estado é mesmo militar. E os homens de farda usam a influência para favorecer gente como a gente.
2 comentários:
Aaaaah se todo brasileiro fosse como Damaris Giuliana! Linda, você sempre me emociona com seus textos, profundos, poéticos, do coração, da alma... Selva!!!
Cap Aliane - Marabá - PA
O trabalho de uma jornalista séria e cativante é este...trazer ao nosso conhecimento fatos e situações que muitos nem imaginam que aconteçam. Você está de parabéns...vai a lugares e situações que muitos jamais se arriscariam e notamos que não é por obrigação e sim por puro prazer. Desde que te conheci virei seu fã de carteirinha.
SO Marques - FORÇA AÉREA BRASILEIRA
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