terça-feira, 25 de março de 2008

ONU anuncia mudanças na missão do Haiti

Dezesseis embarcações devem chegar ao Caribe para dar suporte à Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). A afirmação é de Hédi Annabi, representante do secretário-geral da ONU no país.

Annabi não revela quem vai fornecer os meios, mas a chegada destes dispositivos de segurança pode gerar, por exemplo, uma mudança nas áreas de atuação dos contingentes. As patrulhas marítimas devem se concentrar especialmente no litoral sul. A região seria a porta de entrada para o tráfico de drogas, armas e munições.

É sabido que os carregamentos da Colômbia vão para a Jamaica em lanchas velocíssimas. E seguem da mesma forma para o Haiti, de onde partiriam em aviões para Miami. O aeroporto de Cap Haïtian, no norte do país, pode ser um ponto de distribuição de drogas. A cidade é pequena e o número de moradores não justifica o grande movimento no aeroporto, dizem fontes militares.

O mandato da ONU é baseado em quatro pontos principais: apoio à Polícia Nacional do Haiti (PNH), reforma dos sistemas judiciário e penitenciário, além do apoio ao controle e segurança nas fronteiras. O forte das Forças de Paz da ONU não é o combate ao tráfico de drogas. A PNH, ainda desestruturada e corrupta, não tem a menor condição de fazer isso. Então o país toca a vida com toda essa movimentação milionária, advinda dos ilícitos.

Agora, onde há tráfico, há violência, mesmo que a droga seja pouquíssimo consumida no país. A Ilha Hispaniola é mesmo um ponto geográfico estratégico. A situação caótica do Haiti também favorece bastante. Tráfico de drogas, de armas... tudo está relacionado de alguma forma. As armas e munições alimentam também as gangues, no interior das favelas, e aí entra a Força de Paz.

Para o Brasil, o mais provável é que não se altere nada. A capital Porto Príncipe é um local crítico e deve gerar dor-de-cabeça por bastante tempo ainda. Os militares brasileiros, maioria na missão, ocupam exatamente os pontos mais sensíveis da cidade. Os bairros de Bel-Air, Cité Militaire e Cité Soleil estão pacificados, segundo os militares, mas apresentam alguns “ruídos” uma vez ou outra.

Um dos “ruídos” que deixam a ONU de cabelo em pé se chama seqüestro. No Haiti, esse tipo de violência é sempre lembrada como barbárie. Coisas do tipo: penchinchou? Ok! Paga e leva, mas em partes. O cidadão pode ter algum dedo decepado, por exemplo. Os valores dos resgates podem ser bem baixos ou chegar a quantias exorbitantes. Tudo depende. Antes, diziam que os principais alvos eram a elite do país e os estrangeiros. Hoje, não se defende mais essa teoria.

Durante entrevista à rádio haitiana “Métropole”, Hédi Annabi tentou abrandar a situação com números. Em 2006, foram mais de 500 casos. No ano passado, foram registrados 227. O problema é que os índices voltaram a crescer. Em fevereiro de 2008, 33 pessoas foram seqüestradas.

O chefe da missão reforçou que a ONU, quando se trata de repressão tipicamente policial, apenas apóia a PNH e, portanto, estaria de alguma forma com as mãos atadas por causa da ineficiência da instituição. Mas não é a ONU que cadastra e treina a PNH?

A passos tão lentos, vai ser difícil tirar qualquer tropa daquele país.

Um comentário:

rogerio disse...

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