quinta-feira, 27 de março de 2008
O que McCain vai fazer com Cuba?
McCain aspira um continente americano completamente democrático e pretende chegar a isso rompendo as barreiras comerciais. Qual é a intenção dele a respeito de Cuba? Ele conseguiria fazer isso sem lotar o país de imigrantes e derrubar a própria popularidade nos EUA? Fidel Castro já surpreendeu com a renúncia, mas daí a permitir uma aproximação com o Tio Sam há milhares de quilômetros. A ilha é sustentada pela Venezuela que, apesar de vender petróleo a cântaros para os norte-americanos, não parece apoiar esse tipo de coisa. É possível fazer de Cuba um país democrático em apenas uma gestão?
O senador defende a permanência das tropas norte-americanas no Iraque. Portanto, quer continuar a suposta caçada aos terroristas. Ontem, John McCain falou em fechar Guantánamo, prisão mantida pelos EUA, em Cuba, para deter os suspeitos de terrorismo. Desconsiderando a pressão internacional para que isso aconteça, já que os EUA não se preocupam mesmo com o resto do mundo, algumas reflexões podem ser feitas...
A medida poderia ser uma tática para acabar com as denúncias de tortura e os “rótulos” que o lugar carrega. Neste caso, haveria pelo menos duas possibilidades: eliminar todos os considerados suspeitos de terrorismo ao redor do mundo, ou levá-los para algum lugar que, dificilmente, seria o solo norte-americano.
Os EUA constroem uma gigantesca (para falar pouco) embaixada em Porto Príncipe. Numa conversa informal, perguntei a um militar brasileiro quais seriam os interesses dos EUA no Haiti para construir aquela verdadeira fortaleza. “Talvez eles queiram instalar aqui uma outra Guantánamo”, conjecturou o oficial. Ele não foi o único a me dizer que, naquela área, os norte-americanos conseguiriam instalar, com muito conforto, dez batalhões - algo em torno de 7500 homens com todos os equipamentos que eles carregam.
Outro trecho instigante do discurso de McCain: “nós precisamos ouvir e respeitar os pontos de vista dos nossos aliados democráticos”. Ouvir e respeitar não significa seguir o que os outros estão dizendo. McCain não quer ouvir todo mundo porque aí também já seria demais para um presidente dos EUA. Se ele liderar o país ouvirá apenas os aliados democráticos.
O que fazer, por exemplo, com o aliado Paquistão, detentor de uma bomba atômica? Ou será que Pervez Musharraf, ainda no poder, é considerado um líder democrático?
terça-feira, 25 de março de 2008
ONU anuncia mudanças na missão do Haiti
Annabi não revela quem vai fornecer os meios, mas a chegada destes dispositivos de segurança pode gerar, por exemplo, uma mudança nas áreas de atuação dos contingentes. As patrulhas marítimas devem se concentrar especialmente no litoral sul. A região seria a porta de entrada para o tráfico de drogas, armas e munições.
É sabido que os carregamentos da Colômbia vão para a Jamaica em lanchas velocíssimas. E seguem da mesma forma para o Haiti, de onde partiriam em aviões para Miami. O aeroporto de Cap Haïtian, no norte do país, pode ser um ponto de distribuição de drogas. A cidade é pequena e o número de moradores não justifica o grande movimento no aeroporto, dizem fontes militares.
O mandato da ONU é baseado em quatro pontos principais: apoio à Polícia Nacional do Haiti (PNH), reforma dos sistemas judiciário e penitenciário, além do apoio ao controle e segurança nas fronteiras. O forte das Forças de Paz da ONU não é o combate ao tráfico de drogas. A PNH, ainda desestruturada e corrupta, não tem a menor condição de fazer isso. Então o país toca a vida com toda essa movimentação milionária, advinda dos ilícitos.
Agora, onde há tráfico, há violência, mesmo que a droga seja pouquíssimo consumida no país. A Ilha Hispaniola é mesmo um ponto geográfico estratégico. A situação caótica do Haiti também favorece bastante. Tráfico de drogas, de armas... tudo está relacionado de alguma forma. As armas e munições alimentam também as gangues, no interior das favelas, e aí entra a Força de Paz.
Para o Brasil, o mais provável é que não se altere nada. A capital Porto Príncipe é um local crítico e deve gerar dor-de-cabeça por bastante tempo ainda. Os militares brasileiros, maioria na missão, ocupam exatamente os pontos mais sensíveis da cidade. Os bairros de Bel-Air, Cité Militaire e Cité Soleil estão pacificados, segundo os militares, mas apresentam alguns “ruídos” uma vez ou outra.
Um dos “ruídos” que deixam a ONU de cabelo em pé se chama seqüestro. No Haiti, esse tipo de violência é sempre lembrada como barbárie. Coisas do tipo: penchinchou? Ok! Paga e leva, mas em partes. O cidadão pode ter algum dedo decepado, por exemplo. Os valores dos resgates podem ser bem baixos ou chegar a quantias exorbitantes. Tudo depende. Antes, diziam que os principais alvos eram a elite do país e os estrangeiros. Hoje, não se defende mais essa teoria.
Durante entrevista à rádio haitiana “Métropole”, Hédi Annabi tentou abrandar a situação com números. Em 2006, foram mais de 500 casos. No ano passado, foram registrados 227. O problema é que os índices voltaram a crescer. Em fevereiro de 2008, 33 pessoas foram seqüestradas.
O chefe da missão reforçou que a ONU, quando se trata de repressão tipicamente policial, apenas apóia a PNH e, portanto, estaria de alguma forma com as mãos atadas por causa da ineficiência da instituição. Mas não é a ONU que cadastra e treina a PNH?
A passos tão lentos, vai ser difícil tirar qualquer tropa daquele país.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Um doce por um sorriso
As centenas de reportagens mostradas nesta época falam de chocolates, de dinheiro e também de solidariedade. Se juntarmos tudo isso, é possível falar de Haiti.
Cité Soleil, Cité Militaire e Bel-Air, bairros antes marcados pela violência arrebatadora, tiveram um final de semana de pureza, de doçura. Dez mil sorrisos ficaram estampados nos pequeninos rostos, que hoje têm direito a um pouco mais de inocência.
É preciso destacar que, para cada R$1,00 dado pelos militares, a Chocolates Garoto contribuiu com a mesma quantia. Os bombons foram transportados em vôo de suprimento da Força Aérea Brasileira. O Ministério da Defesa envia um avião para o Haiti a cada vinte dias, aproximadamente.
Os militares ainda jogaram capoeira - coisa que os haitianos gostam muito - promoveram atividades de recreação e distribuíram dez mil litros de água potável. O tratamento é feito pela Companhia de Engenharia de Força de Paz.
Guerrear na Selva também se aprende na escola
Intimidade com a natureza eles têm de sobra e confiança de que dominam a re

A missão não é nada fácil. O Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, compara os 11.500 km de fronteira do Brasil com sete países aos 2.500 km de fronteira entre os Estados Unidos e o México. Lá, eles não dão conta. Apesar do terreno quase desértico, de fácil locomoção e visualização. Aqui, a mata é fechada e a fiscalização só é mais simples, ou menos complicada, nos rios. Sem falar na superioridade norte-americana e no sucateamento das Forças Armadas brasileiras, com os seus modernos fuzis fabricados em 1964.
Com tais empecilhos, os militares dizem que só há duas coisas a fazer: contar com a ajuda dos moradores da região, que atuam como grandes fiscais e avisam o exército sobre qualquer movimento estranho; e investir na qualidade do homem que defende aquele chão. É para formar os comandantes das chamadas “frações” que existe o Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS. Do sargento ao coronel, todos passam por até onze semanas de instrução. O Major Ricardo Quadros, que serve pela quarta vez na selva e é um dos instrutores do curso, conta que o foco está nas operações na mata, embora o que se mostre normalmente aos visitantes seja a parte de ambientação, também conhecida como sobrevivência.
A formação no CIGS requer, entre outras coisas, muito preparo físico, determinação, conhecimento interior e controle psicológico. O Guerreiro de Selva é preparado para resistir à presença inimiga, para surpreender, para desestabilizar, para fazer o intruso se entregar, ou caçá-lo, onde quer que ele esteja.
E o inimigo está por perto, muito perto... mas isto é tema para uma outra conversa.
domingo, 23 de março de 2008
Severino - O homem da borracha
Severino, o ribeirinho serigueiro, tem olhos profundamente azuis, como jamais vi o céu de Manaus. Olhos tão chamativos e sinceros, que é impossível não conversar com a alma de Severino. Ele vive e trabalha no mesmo lugar. Com o restaurante sempre à espera de turistas dos caríssimos hotéis de selva, o seringueiro passa o dia com a mulher e a filha.
Pés descalços. Pele em contato com a vida amazônica que pulsa na terra. Uma grande alegria em reencontrar os amigos fardados. Os Guerreiros de Selva são muito bem quistos por Severino, que logo traz a Coca-Cola. Só que o refrigerante vai parar é na goela de alguém que, de visitante, não tem nada.
Satisfeito, o bicho segue a vida, sobe nas estruturas de madeira e desaparece na mata. A mesma que Severino adentra rapidamente. Com andar meio manco, ele sobe os degraus improvisados, numa velocidade impressionante. Acompanhar não é fácil, só a imensa curiosidade para garantir o fôlego.
Severino logo acende o defumador. Com o fogareiro na cabeça tira as lascas da árvore para obter o látex. Numa demonstração típica de tv, ele expõe o passo-a-passo do trabalho no seringal. O homem da borracha nunca passou por um curso de marketing, mas poderia dar aula em qualquer faculdade. Ele é simples, carismático e objetivo. Severino é fascinante e extremamente explorado.
Os Senhores do Norte compram a borracha e não pagam em dinheiro. Eles trocam por grãos, mantimentos, coisas que os seringueiros não conseguem vender, assim se tornam dependentes. E não há balança que faça, da troca, algo ao menos um pouco justo. O peso depende da vontade do “comprador”. O seringueiro pode até defumar uma tonelada de borracha, mas se o "senhor" disser que tem oitocentos quilos, é isso que vai “pagar”. E não tem choro.
Severino se salva com o turismo. O pessoal assiste a demonstração e uma
A despedida de Severino tem um “q” tecnológico. Ele e um major trocam telefones ligando para o celular um do outro. A próxima conversa vai ser sobre a vinda do médico do Centro de Instrução de Guerra na Selva. A filha do homem da borracha está com problemas. Ela já foi à cidade algumas vezes, mas não consegue atendimento em hospital público. O médico vai examinar a moça e encaminhá-la para um atendimento adequado em nome do General Heleno, Comandante Militar da Amazônia. Na selva, a única presença do Estado é mesmo militar. E os homens de farda usam a influência para favorecer gente como a gente.
domingo, 9 de março de 2008
Bush veta lei antitortura
O presidente norte-americano George W. Bush vetou a lei, aprovada em dezembro pelo deputados e fevereiro pelos senadores, que proibiria a CIA de simular afogamentos e aplicar outras técnicas de tortura.
No seu programa semanal de rádio, Bush afirmou que é preciso garantir aos funcionários da inteligência todas as ferramentas para conter os terroristas. Na avaliação do presidente, o perigo continua e o país não pode reduzir as “ferramentas vitais” para o serviço de inteligência.
O método tem sido condenado, principalmente, por ativistas de direitos humanos. Congressistas queriam que a CIA seguisse as normas do Exército, que proíbe o afogamento e outras sete técnicas de interrogatório. A CIA alega que o trabalho de inteligência precisa de procedimentos condizentes com os objetivos, que não correspondem aos dos militares norte-americanos.